terça-feira, 15 de março de 2011

APARTHEID NO CARNAVAL

Dizer que o carnaval (de Salvador) é uma festa popular é quase uma contradição. A folia transformou-se há muito tempo em um verdadeiro apartheid(separação). De um lado, os ricos curtindo o melhor da festa em luxuosos camarotes ou nos blocos mais concorridos; do outro, os foliões que se arriscam na pipoca e, entre eles, os cordeiros que trabalham duro para permitir o deleite dos mais afortunados. “É um Carnaval muito demagógico. Tem gente preocupada com os jegues, mas não se preocupa com os cordeiros, que mal bebem água”, critica o antropólogo Antônio Godi. 


Enquanto isso, os donos de cervejarias, camarotes e alguns artistas baianos enchem os bolsos. Às vésperas da folia, o cantor Bell Marques, do Chiclete com Banana, resolveu raspar a barba em uma ação da Gillette - patrocinadora dos blocos Nana Banana, Camaleão e Banana Coral. 

Especula-se que a marca pagou ao cantor cerca de R$ 2 milhões. Mas não há prenúncio de mudanças. A própria Prefeitura defende que o modelo deve ser sustentado sob a alegação de que a folia traz alta arrecadação ao município. No entanto, os números oficiais não sustentam o argumento: em 2009, o prejuízo com o Carnaval foi de R$ 17,4 milhões .

Camarotes enriquecem

O Camarote do Reino, que por dia comporta 2,5 mil pessoas, cobra entre R$ 270 e R$ 700 por ingresso. Nos seis dias de festa, o equipamento tem um lucro bruto em torno de R$ 7,2 milhões. O Camarote do Nana Banana, que tem um preço  variando entre R$ 350 e R$ 690 e recebe aproximadamente dois mil foliões, coloca no bolso cerca de R$ 6,2 milhões.

Já o Camarote Salvador, que carrega o preço mais exorbitante, chegando a cobrar R$ 1,2 mil por apenas um dia da festa, tem a capacidade de abrigar três mil pessoas, o que gera uma média de lucro de R$ 14,4 milhões. Como se não fosse o bastante, os camarotes cobrarem caro para os foliões desfrutarem das mordomias nos equipamentos, eles estão cada vez maiores e reduzem mais ainda o espaço da pipoca. 

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