quinta-feira, 28 de março de 2013

Sociedade



FIRME 
FIRMEZA 
FIRMINO 


Quando trabalhava no Banco do Brasil, de Ribeira do Amparo, como menor auxiliar, vez em quando o via chegar. Sempre me chamou atenção. Descia e subia do cavalo com muita destreza, andar resoluto, filho pequeno sempre ao lado. Seu Firmino, me disseram o nome, e me disseram que ele trabalhava no cabo da enxada arrancando topo (a profunda raiz das árvores cortadas da caatinga), trabalho que quase ninguém queria fazer. Fiquei ainda mais encantada, intrigada com uma existência que tinha tanto a dizer, tanto a me dizer. 


Mas os anos foram passando, sai do banco, e como vocês sabem essa coisa de tempo mais afasta que aproxima as pessoas. Assim aconteceu comigo e com Firmino, embora ele não soubesse disso, pelo menos não até hoje. 

Como a sua imagem recorrentemente surgia nas minhas memórias, resolvi procurá-lo, fui à casa dele falar o quanto o admiro, desde a minha adolescência. Lá, ele me contou alguns tesouros, falou que é carpinteiro (profissão aprendida com o pai), pedreiro (aprendeu com os amigos), e faz qualquer trabalho de roça, já foi amansador de burro brabo, "subidor" de coqueiro e, na mais apaixonada das falas, se revelou tocador de sanfona. Sobre esta última, lamentando disse que vendeu o instrumento, pois havia quebrado, e não tinha condições de consertar. 

Continuamos conversando, dentro da casa construída com as suas próprias mãos. Ele me disse que nasceu em outubro de 1950, está com 63 anos, e anda de joelhos desde criança, mas nunca deixou de fazer nada por causa disso. Como pedreiro já construiu mais de vinte casas, tem cinco filhos, esposa, e recentemente teve um passamento que o deixou com a memória um pouco falha. Mais adiante, falou da saudade da sanfona, e quando ela aperta muito, vai na casa de um amigo tocar. Ainda sonha poder ter uma, mesmo velha, uma bandinha quem sabe, e tocar mesmo sem ganhar nada, pois o que gosta mesmo é de ver a alegria das pessoas. 

Viu a minha.

Professora Daiane Oliveira

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