segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ACONTECEU - RIBEIRA NA FOLHA DE SÃO PAULO
São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002




Cidades vivem de dinheiro da Previdência
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Em Ribeira do Amparo, cidade baiana de 13 mil habitantes, há um aposentado para cada seis habitantes. Os mais de 2.000 aposentados rurais e os 700 empregados da prefeitura geram quase toda a renda do município.
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Uma vez por mês, 12 idosos lotam a sede do sindicato dos trabalhadores rurais da cidade. Dali, um carro do sindicato os leva para uma viagem de 30 quilômetros até o posto da Previdência, onde recebem um benefício que raramente ultrapassa os R$ 200.
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"Só vendi R$ 3. Dinheiro agora só daqui a sete dias", diz Josefa Maria de Jesus, 86, contando com grãos de arroz que guarda no bolso quantos dias faltam para receber a aposentadoria.

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Na feira semanal da cidade vizinha, as vendas só são boas nos dias de pagamento da Previdência. "Hoje não vendi nada. Aqui só os velhos compram, e o banco só paga na semana que vem. Aí é dia de festa", diz Judite Matilde da Cruz, 55, vendedora de feijão.
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As aposentadorias rurais garantem a subsistência de famílias inteiras. É assim na casa de Bernardo Ferreira Neto, 72, que caminha quase 10 quilômetros para ir ao banco e sacar R$ 200. Um dia depois, faz a mesma caminhada, mas para receber o benefício da mulher, também aposentada.
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Com os R$ 400 mensais, a família comprou em prestações uma televisão, que fica em cima do único móvel da casa. Fora a TV, nenhum outro utensílio doméstico. Mas Bernardo diz ter se arrependido. O dinheiro, cerca de R$ 30 reais mensais, faz falta. No final do mês, falta dinheiro para comer. Da TV ele aproveita pouco. Não gosta, não assiste e preferiria que os três filhos e oito netos também não gastassem tempo diante da TV: "Faz doer a cabeça".
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Maria Eunice da Cruz da Silva, 38, vende bananas na feira. Diz ganhar R$ 150 por mês, bastante para educar quatro filhos. "Comida não falta. Temos um pedaço de terra. Comprei uma TV, para os filhos estudarem melhor, verem o jornal", explica. A situação já foi melhor para Silva. A mãe, que morreu há três meses, recebia R$ 200 da Previdência. Dobrava a renda da família. "Agora o banco diz que não se pode mais ter o dinheiro. Paciência."
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Com exceção dos funcionários da prefeitura, a maioria das famílias depende da renda da agricultura feita à base de enxada e das aposentadorias dos idosos. A situação é parecida em mais da metade das cidades do país. Em 3.479 cidades, a soma dos benefícios é maior do que o Fundo de Participação dos Municípios, verba repassada pelo governo federal.
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"Várias pesquisas mostram que há uma série de melhorias associadas aos benefícios da Previdência. Melhora a escolaridade das crianças, os cuidados de higiene e, como consequência, diminuem os problemas com saúde e a mortalidade infantil", diz Guilherme Delgado, pesquisador do Ipea.
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O que de mudou de verdade de lá para cá?

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